El Salvador: Como funcionam os presídios de segurança máxima que se tornaram modelo para o mundo
Entenda como funcionam os presídios de segurança máxima de El Salvador e por que o país virou referência no combate ao crime.
Durante boa parte das últimas décadas, El Salvador foi sinônimo de violência extrema. O pequeno país da América Central conviveu por anos com o domínio quase absoluto de facções criminosas, especialmente as gangues conhecidas como MS-13 e Barrio 18. Esses grupos controlavam bairros inteiros, impunham regras próprias à população, cobravam “pedágios” de comerciantes e eram responsáveis por uma das maiores taxas de homicídio do mundo.
A situação chegou a um ponto em que o Estado praticamente perdeu o controle de diversas regiões. Policiais evitavam entrar em certos bairros, moradores viviam sob constante medo e o sistema prisional funcionava, na prática, como uma extensão do crime organizado.
Esse cenário começou a mudar de forma radical a partir de 2019, com a ascensão de Nayib Bukele à presidência. Sua política de segurança pública se tornou uma das mais duras e controversas do mundo — e também uma das mais eficazes em termos de resultados imediatos.

O surgimento dos presídios de segurança extrema
O símbolo máximo dessa virada foi a criação de presídios projetados especificamente para neutralizar o crime organizado, e não apenas para custodiar detentos. O principal deles é o Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), inaugurado em 2023.
Diferente das prisões tradicionais, o CECOT foi concebido para eliminar qualquer possibilidade de organização criminosa dentro de seus muros. A lógica é simples: quem entra, perde completamente o controle, a comunicação e o poder.
O complexo tem capacidade para dezenas de milhares de presos e funciona sob vigilância permanente, com um dos maiores esquemas de segurança da região.

Regras rígidas e rotina de confinamento
As regras dentro dos presídios de segurança máxima de El Salvador chamam atenção pela severidade. Entre os principais pontos estão:
- Ausência de colchões, travesseiros ou cobertores, mesmo à noite
- Nenhum tipo de visita, nem mesmo de familiares ou advogados presenciais
- Proibição total de celulares, televisão, livros ou qualquer forma de entretenimento
- Alimentação controlada e horários extremamente rígidos
- Vigilância constante, com câmeras e agentes armados 24 horas por dia
Os detentos permanecem confinados na maior parte do tempo, sentados ou deitados diretamente em estruturas metálicas. O objetivo declarado do governo é impedir qualquer forma de comunicação, planejamento ou fortalecimento de laços entre membros de facções.

O fim do comando do crime a partir das prisões
Antes das reformas, as cadeias de El Salvador eram conhecidas como verdadeiros quartéis-generais do crime. Líderes de gangues davam ordens de dentro das celas, coordenavam assassinatos, extorsões e sequestros, além de manter contato direto com comparsas nas ruas.
Com o novo modelo, esse sistema foi desmantelado. O isolamento absoluto cortou a principal fonte de poder das facções: a comunicação. Sem celulares, visitas ou acesso externo, os líderes perderam a capacidade de comandar operações criminosas fora dos muros da prisão.
Segundo autoridades locais, isso foi decisivo para o colapso das gangues nas ruas.

Resultados que chamaram o mundo inteiro
Os números após a adoção das novas políticas impressionam. Em poucos anos, El Salvador deixou de figurar entre os países mais violentos do planeta e passou a registrar quedas históricas nos índices de homicídio.
Regiões antes dominadas por facções foram retomadas pelo Estado. Moradores passaram a circular livremente, comércios reabriram e o turismo começou a dar sinais de recuperação. Para grande parte da população, a sensação de segurança voltou a fazer parte da rotina.
O governo atribui esse sucesso a três pilares principais: prisões em massa de criminosos, endurecimento das leis e isolamento total das lideranças do crime.
Críticas e controvérsias
Apesar dos resultados positivos, o modelo não é unanimidade. Organizações de direitos humanos e setores da comunidade internacional criticam as condições de encarceramento, classificadas como extremas. Há também questionamentos sobre prisões sem julgamento imediato e possíveis detenções injustas durante operações em larga escala.
O governo salvadorenho rebate afirmando que o país enfrentava uma situação excepcional e que as medidas adotadas salvaram milhares de vidas. Para Bukele, o direito à segurança da população deve prevalecer sobre o conforto de criminosos reincidentes.
El Salvador virou exemplo para o mundo?
Independentemente das críticas, El Salvador se tornou um caso de estudo global em segurança pública. Governos, especialistas e autoridades de outros países passaram a observar o modelo com atenção, buscando entender se a estratégia pode ser adaptada a diferentes realidades.
O caso salvadorenho mostra que, ao retirar completamente o poder das facções — inclusive dentro do sistema prisional, o Estado pode recuperar o controle do território e reduzir drasticamente a violência. A grande questão que permanece é: esse modelo é sustentável a longo prazo e replicável em outras nações?
O debate segue aberto, mas uma coisa é certa: El Salvador mudou o jogo no combate ao crime organizado.

