O Mar Mediterrâneo enfrenta uma dupla ameaça. Um factor inesperado foi adicionado à ameaça causada pela subida do nível do mar causada pelas alterações climáticas: o afundamento de terras costeiras.
Ameaça dupla. É o que emerge de um estudo liderado por investigadores do Instituto Nacional Italiano de Geofísica e Vulcanologia (INGV) e da Universidade Holandesa Radboud. Os autores do estudo estimaram que a taxa de subida das águas em algumas regiões do Mediterrâneo é até três vezes maior do que naquelas onde o solo não afunda.
O fenómeno responsável por este aumento extraordinário é a subsidência. Este termo refere-se ao deslocamento do solo, seja por causas naturais ou por causas antrópicas.
“A nossa análise mostra que, precisamente por causa da subsidência, em algumas áreas do Mediterrâneo o nível do mar está a subir quase três vezes mais rapidamente do que em áreas estáveis”, resumiu Antonio Vecchio, um dos autores da investigação, num comunicado de imprensa.
Revendo para cima. Os autores do estudo tomaram como referência o aumento dos níveis de água considerado no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas no seu último Relatório de Avaliação, AR6. Concluem através desta análise que o relatório estaria a subestimar o futuro aumento dos níveis da água.
Compararam estas estimativas com observações realizadas em 51 pontos da costa mediterrânica, combinadas com informações de satélite sobre o deslocamento vertical da terra. Observaram que, em média, o nível do mar subiu oito centímetros mais do que o esperado.
Os detalhes do estudo foram publicados em dezembro passado na revista Cartas de Pesquisa Ambiental.
38.500 quilômetros quadrados. Isto poderá traduzir-se na perda de 38.500 quilômetros quadrados de terra perdidos para o mar até ao ano 2150 na bacia do Mediterrâneo. 19.000 deles na costa norte do mar.
Embora o estudo aponte o Egipto, a Itália e a França como os países onde o problema resultaria em maior perda de espaço, o problema também afecta Espanha. Parte destas áreas de risco situam-se na costa oriental da Península Ibérica: o delta do Ebro é um exemplo disso, mas não o único.
Implicações. Contudo, não se trata apenas do terreno perdido. Esta subida do nível do mar aumentará o risco de inundações nas cidades costeiras, e afetará especialmente as praias, com o consequente impacto no turismo.
A perda de zonas costeiras também poderá afectar a pesca e representar novos riscos para as infra-estruturas costeiras, como os portos. Nas cidades costeiras, os riscos também se estenderiam a residências e empresas.
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