Que o sistema de reciclagem de plástico está quebrado é um segredo aberto. Mas só aos poucos vamos percebendo a dimensão do problema.
Um novo relatório. A associação americana Center for Climate Integrity (CCI) publicou recentemente um relatório sobre reciclagem de plástico. Nele, atacam a indústria dos plásticos, que acusam de ter promovido a reciclagem destes materiais mesmo sabendo da fraca viabilidade técnica e económica.
Uma tarefa difícil. Reciclar plásticos não é uma tarefa fácil. No nosso dia a dia utilizamos uma grande variedade de materiais deste tipo, cada um com determinadas características funcionais e químicas. Todos vão parar no mesmo recipiente, o da embalagem, mas a partir daí é necessário separar cada tipo de plástico para proceder à sua reciclagem quando possível. Nem sempre é possível.
Segundo dados da Ecoembes, em 2022, 708.596 toneladas de embalagens plásticas foram recicladas em Espanha, embora ONGs como o Greenpeace levantem dúvidas. Segundo o Greenpeace, é notável a diferença entre a taxa de reciclagem de plástico declarada pela Ecoembes (89,2%) e a estimada pela própria ONG (34,8%). Note-se que ainda é superior à média mundial de 9% estimada pela OCDE.
Segundo o relatório, números como estes são apenas o reflexo de uma impossibilidade: a reciclagem eficaz de plásticos está fora do nosso alcance. Não só do ponto de vista económico, mas também do ponto de vista tecnológico.
Uso único. No entanto, o relatório sublinha a acusação de que, mesmo sabendo desta impossibilidade, a indústria promoveu a ideia de que a reciclagem era possível e viável para abrir caminho a plásticos de utilização única como os que utilizamos nas fábricas.
“Eles sabiam que se focassem no [plásticos] de uso único, as pessoas compravam e compravam”, explicou ele ao O guardião Davis Allen, pesquisador do CCI e coautor do relatório.
Outro ponto de vista. A reação da indústria não demorou a chegar. O Conselho Americano de Química, num comunicado, esta associação observou que “os fabricantes americanos de plástico estão a investir milhares de milhões de dólares em produtos e tecnologias melhores e inovadores que separam, capturam e reciclam maiores quantidades e mais tipos de plásticos”.
Alegam que o “relatório errôneo” se refere a tecnologias obsoletas e que representa uma caracterização enganosa da indústria e das capacidades atuais de reciclagem de plásticos.
“Como é típico, em vez de trabalharem juntos em prol de soluções reais para os resíduos plásticos, grupos como a CCI escolhem ataques políticos em vez de soluções construtivas”, protestou Matt Seaholm, presidente e CEO da Plastics Industry Association, num comunicado também recolhido por O guardião.
O conseguiremos? Talvez nunca consigamos alcançar um sistema de reciclagem eficiente que possamos aplicar aos plásticos na nossa vida quotidiana. Mas talvez um dia consigamos tratar estes resíduos para que os seus resíduos não contaminem o nosso ambiente.
Uma das grandes apostas nesse sentido é a descoberta de enzimas capazes de decompor polímeros plásticos, quebrando essas cadeias para convertê-las em moléculas inofensivas. É sem dúvida uma grande promessa mas nada garante por enquanto que não resultará numa quimera, só o tempo dirá.
Embora o tempo não seja o que sobra. A poluição causada por microplásticos já é uma realidade. Esses resíduos têm aparecido nos lugares mais remotos da Terra, um sinal do grande alcance desses contaminantes. Além disso, sabemos muito pouco sobre os potenciais impactos destes resíduos na saúde e no ambiente.
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Imagem | Krizjohn Rosales