PEC do 6x1 pode gerar inflação e aumentar custos para empresas, alerta especialista
Mudança na jornada de trabalho de 6x1 para 5x2 pode melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, mas empresários alertam para aumento de custos e impacto inflacionário
A mudança da jornada de 6x1 para 5x2 é vista pelos trabalhadores como um avanço na qualidade de vida, mas preocupa empregadores pelo aumento de custos e impacto inflacionário. A necessidade de novas contratações elevaria os preços, e a alta carga tributária no Brasil dificulta essa transição.
O impacto da PEC do 6x1 na vida do trabalhador
“Para o empregado, que é CLT, eu penso que é uma demanda amplamente apoiada por eles, porque, de fato, a jornada 6x1 é mais cansativa. As pessoas acabam tendo que trabalhar no sábado e deixam de ter tempo de descanso, de passar um tempo com a família, de fazer coisas que poderiam estar fazendo e que outras pessoas fazem. Então, é plenamente compreensível.
Do ponto de vista da saúde mental, já foram feitos estudos mostrando que muitos empresários entram em depressão por jornadas estimulantes e pela falta de convívio social por conta do trabalho. Esse ponto, eu acho que é quase unânime e indiscutível. De fato, todo mundo quer ter uma qualidade de vida melhor, o trabalhador também quer ter.”
A visão dos empregadores e os custos envolvidos
“Mas aí precisamos olhar pelo ponto de vista de quem é o empregador, de quem emprega e paga o CLT. De acordo com estudos feitos, isso geraria um efeito inflacionário muito grande. Principalmente porque, se você extingue a jornada 6x1 e ela passa a ser 5x2, será necessário contratar alguém para substituir quem não trabalha mais aos sábados. Isso tem um custo para as empresas, e quando falo das empresas, são todas, qualquer uma que produz, que tem serviço, que tem empregado.
Esse aumento de custos geraria um efeito inflacionário alto, porque as empresas não assumiriam essa responsabilidade sem repassar esse custo para o consumidor final. Consequentemente, o repasse de custo gera inflação, um processo natural. Pelo que li, não seria uma inflação pequena, mas algo sentido por todo mundo. Então, não vejo espaço para esse tipo de jornada ainda. Principalmente porque os encargos trabalhistas no Brasil são muito altos.”
Barreiras econômicas e jurídicas
“Na verdade, o próprio governo impede que isso aconteça, pois impõe muitas amarras. É lógico que o funcionário precisa ter direitos e garantias, mas, se olharmos para outros países, veremos que eles não têm o mesmo modelo. Lá, o cenário trabalhista é muito mais liberal. Aqui, o sistema é muito mais paternalista, o que, do ponto de vista do trabalho, também pode ser ruim.”
O Brasil está preparado para essa mudança?
“Minha opinião é que o Brasil, infelizmente, ainda não está preparado para isso. Conversando com empresários, vejo que eles não enxergam isso com bons olhos, porque precisariam repor os funcionários. Isso acabaria gerando um aumento no preço de tudo. Se o empregador precisa contratar mais uma pessoa, alguém vai pagar essa conta.
Esse é um assunto que precisa ser mais debatido, para que talvez se chegue a um denominador comum, alguma exceção, algo do tipo. Existem também convenções coletivas, compensações de jornada, uma série de outras medidas que já foram implementadas ao longo do tempo para garantir mais qualidade de vida”.
Fonte: Rodrigo Costamilan, advogado especialista em Direito Trabalhista e Empresarial