Hoje em dia, voar é uma coisa bastante mundana para muitas pessoas. Quem tem mais e quem tem menos pode ter pegado avião pelo menos uma vez, mesmo que tenha sido uma viagem curta. Porém, houve um tempo em que voar estava reservado aos pássaros, mas o ser humano sempre olhou para o céu e quis conquistá-lo. Pois bem, a primeira pessoa a fazê-lo, ou pelo menos a tentar, foi um andaluz. De Ronda e Córdoba, para ser mais exato.
Seu nome: Abbas Ibn Firnas.
De al-Andalus desde pequeno. Abbas Ibn Firnás nasceu no que hoje seria Ronda (Málaga). Ele percorreu suas ruas na época do Emirado Omíada e é considerado um pioneiro da aviação e da aeronáutica. Estudou química, física e astronomia, embora também tenha ensinado poesia na corte de Abderramán II.
Entre os seus muitos desenhos estão um relógio de água, uma esfera armilar (a primeira na Europa) e um planetário mecânico construído na sua própria casa, onde também aplicou o Zīj as-Sindhind pela primeira vez na nossa península. Em suma, eram tabelas de origem hindu que permitiam calcular a posição do Sol, da Lua e dos cinco planetas até então conhecidos.
O primeiro a voar. Ou pelo menos, o primeiro homem a voar e a viver para contar a história, porque as coisas como são, e citando o sempre preciso Buzz Lightyear, o que Ibn Firnas fez da primeira vez não foi voar, foi “cair com estilo”. O que o nosso protagonista, que teria passado o dia observando e estudando pássaros, fez foi subir na Torre da Mesquita de Córdoba e pular segurando uma lona. Um plano perfeito.
Atualmente a torre da Mesquita-Catedral tem 54 metros de altura, mas não é bem a construção original. Após a conquista cristã, o antigo minarete do Aljama tornou-se uma torre sineira vigiada por San Rafael. Além disso, teve que ser remodelado em 1589 depois que uma tempestade ou terremoto (não se sabe ao certo) danificou o minarete. No momento do salto de Abbas Ibn Firnas, a torre devia ter cerca de 47 metros de altura, o que também não é pouca coisa.
Pois bem, o andaluz saltou com a sua lona, deslizou uma curta distância durante alguns segundos e, por fim, bateu em algumas árvores. Lesões leves que serviram não para inventar o avião, mas para obter o título de “criador do paraquedas”.
Render? Não. Alguns, muitos anos depois (em 875, já com 65 anos) Abbas Ibn Firnas tentou novamente. Inspirado nos pássaros, o andaluz criou uma estrutura de madeira semelhante a asas que cobriu com tecido de seda e decorou com penas. Ele mesmo se encarregou de reunir as testemunhas, que viram como ele foi novamente atirado da torre.
A diferença, claro, é que desta vez foi possível ficar no ar por vários segundos. O problema é que faltava na invenção uma coisa que os pássaros possuem e que é vital para direcionar o vôo: a cauda. Ele desabou no vale e quebrou as duas pernas, mas sim, ele voou.
Seu Legado. Poucas pessoas podem dizer que saltaram de uma torre duas vezes e sobreviveram para contar a história. O bom e velho Ibn Firnas morreu poucos anos depois do seu último salto, em 887, mas hoje podemos continuar a ler o seu nome. Não só em Córdoba temos uma ponte em forma de asas em sua homenagem, mas há uma cratera na Lua que leva seu nome e uma estátua no aeroporto internacional de Bagdá, veja a foto no início desta matéria.
Imagem | Wikimedia Commons
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