Desde o início da era espacial, os engenheiros têm batido repetidamente com a cabeça contra o mesmo problema: a impossibilidade técnica de construir um motor que seja eficiente tanto na atmosfera como no vácuo.
Tanto que só conseguimos consertar montando foguetes de dois estágios: um com bicos para a fase atmosférica e outro otimizado para o espaço sideral. A coisa do “meio” é uma questão de força bruta.
É ineficiente? Sim. Temos outra opção? Não no começo.
“Em principio”? Bem, sim, porque há mais de 70 anos não faltam especialistas que pensavam que a solução estava em algo muito simples: a forma. Como Darren Orf apontou há alguns meses, “seja o foguete alemão V-2, o lendário Saturn V da NASA ou o Falcon Heavy da SpaceX, todos os motores de foguete compartilham um atributo comum: seus bicos de exaustão têm formato de sino”. Mas e se eles não tivessem?
Essencialmente, a função de um bocal é direcionar o fluxo de gases na direção que nos interessa. Parece óbvio, mas é fundamental. Acima de tudo, porque a mistura de propulsores a temperaturas muito elevadas gera muita força, mas o movimento dos gases é (em grande parte) aleatório. O bocal convencional tem se mostrado muito eficaz em converter toda aquela aleatoriedade em um “jato” eficiente o suficiente para lançar o foguete no ar. A questão é, então, como podemos viver sem isso.
É aí que entra o ‘aerospike’: um tipo de motor que “manteria a sua eficiência aerodinâmica numa vasta gama de altitudes”, alterando precisamente a forma em questão. Ou seja, os gases são lançados “ao longo da face exterior de um volume sólido em forma de cunha” [el spike o punta] e o resultado também seria reduzir eficientemente essa aleatoriedade.
Parece bom, muito bom. No final das contas, tudo isto que explicamos se traduziria em conseguir reduzir o peso total do navio e, no processo, aumentar a carga útil. O problema? Isso não funciona.
A eterna promessa da exploração espacial. É verdade que a NASA testou um protótipo na década de 1990, mas o resultado sempre foi o mesmo: as diversas empresas ou agências que optaram pelo aerospike acabaram assinando cheques que não conseguiram pagar.
E o que mudou para estarmos falando sobre isso? A Alemanha passou. Em abril, Berlim adjudicou um contrato militar à Polaris, uma start-up dedicada a este tipo de tecnologia, para investigar as possibilidades de utilização de um motor deste tipo num avião espacial. A novidade agora é que a Polaris acaba de concluir a primeira série de voos de teste de um dos principais protótipos.
Estamos a falar de 15 provas entre o final de agosto e o início de setembro. E é verdade que o MIRA-light (como se chama o protótipo) mede apenas dois metros e meio de comprimento e está muito longe do que procuramos; mas as sensações são boas e isso tem chamado a atenção de muita gente.
Isso significa que teremos (finalmente!) um motor aerospike? A esta altura do jogo, o mais razoável é pensar que não, que há muito trabalho pela frente e que, mesmo no melhor dos mundos possíveis, os seus efeitos não serão imediatos. Porém, a inovação no mundo dos motores é uma excelente notícia (e ainda mais se os testes correrem bem)
Em Xataka | A controvérsia do EmDrive: um motor que viola as leis da física ou um blefe interplanetário?
Imagem | Centro de Voo Espacial Marshall da NASA (NASA-MSFC) | Uísque Papa Lima
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