O explorador brasileiro Yuri Sanada quer que todos os livros de geografia do planeta fiquem desatualizados. Para isso, ele espera reverter um dos debates mais antigos, amargos e complexos que dividem os geógrafos: qual é o maior rio do mundo. A resposta mais comum, compartilhada pela enciclopédia Britânica, o Guinness World Records ou os guias turísticos do Egito é que, com 6.650 quilómetros de extensão, esse título pertence ao Nilo; Mas tal afirmação não está isenta de polêmica e há quem acredite que se os cálculos forem apurados, a honra iria para a Amazônia.
Sanada é um dos que defende esta última opinião. E ele está disposto a provar isso com uma expedição ambiciosa (e perigosa) pela Amazônia.
O que dizem os números? Hoje, o Amazonas é o maior rio do mundo em vazão, mas não o mais longo. Para o Guinness World Records, esse mérito pertence ao Nilo. A enciclopédia Britânica Reconhece que o rio africano tem cerca de 6.650 km de extensão, em comparação com os 6.400 km do rio sul-americano.
Com estes números sobre a mesa, há pouco espaço para discussão, mas a realidade é um pouco mais complicada porque nem a extensão de um nem de outro está livre de debate. Há quem acredite que a extensão total do Nilo seja próxima de 6.700 km ou mesmo em torno de 6.800. E o mesmo acontece com a Amazônia, que algumas medições situam bem acima de 6.400 km e aproximam-na de 6.800 km.
O debate é servido. É isso mesmo, e uma boa prova é que uma rápida pesquisa no Google permite encontrar um bom punhado de referências que afirmam que o título de maior rio do planeta pertence ao Nilo ou ao Amazonas. Então sim, o debate geográfico está servido. Pelo menos por enquanto porque, se tudo correr conforme o planejado, em pouco mais de meio ano Yuri Sanada quer empreender uma ambiciosa expedição ao longo da Amazônia que demonstrará, de uma vez por todas, que nenhum outro rio pode vencer o poderoso rio americano. no comprimento.
E como você pretende fazer isso? O objetivo é liderar uma campanha que terá início em abril de 2024 com o objetivo de percorrer cerca de 7.000 km e viajar até os confins dos Andes peruanos. Tudo com o propósito de mapear e medir todo o curso da Amazônia com a maior precisão possível.
“Vamos provar que tem origem no rio Mantaro, no Peru”, explica o explorador à BBC. Não será fácil, como demonstram os números de exploração fornecidos pelo próprio especialista brasileiro: “Cerca de 4.500 pessoas chegaram ao cume do Monte Everest e 1.500 atravessaram o Atlântico a remo, mas apenas cerca de dez fizeram a viagem desde a fonte do o rio até a sua foz”. A façanha amazônica será exigente e não isenta de riscos. Se tudo correr conforme o planejado, a expedição durará aproximadamente seis meses.
Mas… por que esse interesse pelo Mantaro? Sanada e seus companheiros não irão às cegas, nem movidos por um simples palpite. Os rios Apurímac e Marañón costumam ser considerados os afluentes mais distantes do Amazonas, mas há alguns anos James Contos esquentou o debate ao afirmar que havia identificado uma nascente mais distante no rio Mantaro, também no país andino. A descoberta é fundamental para a disputa entre o Nilo e o Amazonas porque acrescentaria uma extensão extra a este último, entre 75 e mais de 90 quilômetros à sua extensão máxima.
“Nossos resultados reposicionam a nascente mais distante da Amazônia para um local mais tropical, alteram os quase 800 km superiores do rio até este ponto e acrescentam entre 75 e 92 quilômetros ao seu comprimento máximo”, afirma o artigo publicado em 2014 por Contos e Nicholas Tripcevich na revista especializada Área no qual alegaram que os seus mapas topográficos, imagens de satélite e dados hidrográficos e GPS mostravam que a medição poderia ser ampliada ainda mais.
A Amazônia, quase 6.800 km? “Embora já esteja comprovado que o Mantaro está ligado à Amazônia, até agora ninguém fez uma medição completa em terra desde a Cordilheira dos Andes até o oceano deste rio”, explica Sanada, que terá tecnologia de satélite para resolver o problema. debate.
Nem o seu nem o de James Contos foram os primeiros estudos que aspiram a conhecer detalhadamente a Amazônia. Em 2007, o Instituto Geográfico Nacional Peruano (IGN) apresentou os resultados de uma ambiciosa expedição científica peruano-brasileira que chegou à montanha Mismi e concluiu que o Amazonas é o maior rio do planeta com 6.762 km de extensão, o que ultrapassaria o Nilo: “Os resultados oficiais serão submetidos à comunidade científica internacional para posicionar a Amazônia como a mais longa do mundo, embora instituições como a National Geographic já o reconheçam”, explicaram na expedição.
Um eterno debate? Apesar do otimismo de Sanada, nem todos acreditam que o debate entre a Amazônia e o Nilo será resolvido. “A polêmica sobre qual é o primeiro afluente do Amazonas nos Andes peruanos e qual é o primeiro do Nilo na África já existe há muito tempo e acredito que esse debate sempre existirá”, reconhece Antonio De Lisio, geógrafo da Universidade Central da Venezuela.
Há questões espinhosas em cima da mesa, como quais devem ser os critérios para definir a origem de um rio, se devem ser considerados os maiores ou mais extensos afluentes e se aqueles que possuem barragens podem ser considerados válidos.
De olho no Nilo. “No caso da Amazônia, há uma foz tão larga e cheia de ilhas que também é difícil determinar onde termina antes de se tornar o Oceano Atlântico”, disse David Haro, professor da Universidade Escocesa de Aberdeen, também à BBC. . E nem todo o debate centra-se na Amazónia, claro. A própria origem do Nilo deixa espaço para discussão, pelo que a resolução da controvérsia exigiria o reforço das medidas também em África. O próprio Sanada reconhece seu desejo de empreender no futuro uma expedição por suas águas semelhante à que agora prepara para a Amazônia.
Imagens: Alexander Gerst (Flickr), NASA1 sim 2
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