Não é segredo: a espionagem está muito presente na indústria de semicondutores. Está noutros sectores e podemos ter a certeza de que uma indústria estratégica como a dos circuitos integrados não está imune a isso. Chris Miller, autor do livro altamente recomendado ‘The Chip War’, está convencido de que o governo chinês enviou os seus espiões para estudar os processos de produção da ASML.
Esta empresa holandesa é a única que conseguiu projetar e fabricar o equipamento de litografia ultravioleta extremo (EUV) que atualmente é usado pela TSMC, Intel e Samsung para produzir chips de última geração. Nenhuma outra empresa de máquinas litográficas possui este equipamento, portanto a ASML atualmente não tem concorrência neste setor. Embora, como vimos, seja uma empresa holandesa, as suas máquinas utilizam tecnologias americanas, o que dá aos EUA o poder de decidir quem pode utilizá-las e quem não pode.
Na atual situação em que se impõe a tensão entre a China e os EUA, a Administração liderada por Joe Biden aprovou diversas sanções que impedem a ASML de vender aos seus clientes na China seu equipamento litográfico mais avançado, entre as quais estão as máquinas UVE e UVP (ultravioleta profundo). O governo chinês está a investir uma grande quantidade de recursos para desenvolver o seu próprio equipamento litográfico de última geração, mas o tempo é essencial e, nestas circunstâncias, parece que vale tudo. Até espionagem.
ASML suspeita de um de seus ex-funcionários
A história que vamos investigar não vem de boatos. Isto foi confirmado por Peter Wennink, diretor geral da ASML, e está refletido no relatório anual que esta empresa preparou no ano passado. Boa parte do quadro de funcionários desta empresa tem formação em engenharia e vem de diversos países. A ASML tem funcionários chineses, e um deles deixou a empresa em 2022 após ser recrutado pela Huawei e revelar a esta empresa chinesa segredos da empresa holandesa que a priori poderiam comprometer o seu negócio.
Peter Wennink defende que a informação roubada pelo ex-funcionário chinês é parcial
Esta é a verdadeira razão pela qual os responsáveis da ASML decidiram incluir este evento no seu relatório anual de 2022 e pela qual Peter Wennink deu explicações numa reunião com investidores. Segundo esse executivo, as informações roubadas por o ex-funcionário chinês é tendencioso. Na verdade, ele o descreveu como “uma única peça de um quebra-cabeça cuja caixa não está em sua posse”. Esta declaração de Wennink reflete com precisão a complexidade titânica do mais avançado equipamento de litografia produzido pela ASML.
De momento não foi revelado até que ponto a informação confidencial que o ex-funcionário da ASML parece ter dado à Huawei o tem, mas é razoável prever que se trate de dados de interesse sobre alguns dos seus equipamentos de litografia de última geração. Afinal, é disso que a Huawei, a SMIC e outras empresas chinesas precisam para desenvolver a sua tecnologia de integração. É muito provável que, como garante Peter Wennink, a informação roubada seja parcial, mas nas mãos dos especialistas da Huawei pode ser valiosa. Quem sabe, talvez estes dados tenham desempenhado algum papel no desenvolvimento do SoC Kirin 9000S do polêmico smartphone Mate 60 Pro.
Imagem de capa: ASML
Mais informação: SCMP
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