A Warner vem tomando decisões há mais de um ano que a distanciam das demais produtoras de Hollywood. Cancelamentos de filmes finalizados, altos e baixos em sua política com a HBO… o que aconteceu nos últimos dias com o ‘Coyote vs. Acme’ parece ter sido a mais recente prova de que não há ninguém ao volante da produtora. Porém, tudo obedece a um plano que, apesar das aparências, está indo mais ou menos conforme planejado.
Para a caixa. Em 9 de novembro, a Warner anunciou que retiraria completamente o programa ‘Coyote vs. Acme’, um híbrido de animação e live action estrelado por John Cena e que já estava totalmente finalizado. Há dois precedentes para essa história: o famosíssimo caso de ‘Batgirl’, que teria entrado no cânone da DC, e a segunda parte de ‘Scooby!’, intitulada ‘Scoob! Assombração de férias’. O objetivo: reduzir os gastos tributários que essas estreias teriam gerado.
Ah, não. Dada a recepção esmagadoramente negativa que esta decisão teve nas redes sociais em relação a um filme que obteve excelentes resultados em exibições de teste, a Warner pensou duas vezes. E ofereceu o filme para plataformas como Prime Video, Apple e Netflix. Em tempos de escassez de catálogo pelos efeitos das duas greves que a indústria acaba de passar, um filme que tem parte de sua campanha feita antes mesmo de ser feito é um doce bastante sugestivo.
Os criadores se levantam. A terceira fase de notícias relacionadas a ‘Coyote vs. Acme’ veio dos criadores e de sua reação às notícias. De acordo com o The Hollywood Reporter, vários cineastas instruíram seus representantes a cancelar compromissos que tinham com a Warner. E temos visto há alguns dias não apenas fãs do legado de animação de Waener protestando, mas também criadores envolvidos em seu desenvolvimento (gerando material como este fabuloso vídeo de Steven Priceresponsável pela trilha sonora).
Mudança de regime. Para entender esse tipo de decisão é preciso conhecer as mudanças na gestão da Warner que marcaram a empresa. O filme foi um projeto do ex-CEO da Warner, Jason Kilar, que queria lançá-lo na HBO Max. Mas uma das prioridades do gestor que o sucedeu, David Zaslav, foi deixar para trás o compromisso de transmissão e devolver o cinema ao lugar que tradicionalmente ocupava na empresa. E é aí que ‘Coyote vs. Acme’ não consegue encontrar uma vaga.
Torça na animação. Não é a única mudança de directiva. Bill Damaschke mudou no início deste ano para chefiar a facção focada em animação da produtora Warner Animation Group. É assim que a empresa resume: “Com o relançamento da Warner Bros. Pictures Animation em junho, o estúdio mudou sua estratégia global para focar em lançamentos teatrais. ‘Coiote vs. Acme.'” A direção da área de animação da Warner quer lançar, a partir de 2026, dois filmes por ano, e atualmente trabalha em versões animadas de clássicos do Dr. Seuss, como ‘Gato de Chapéu’ ou ‘Oh, os lugares que você irá !’.
A bomba do ano é da Warner. É um fato que não deve ser esquecido. O filme de maior bilheteria do ano não é da Disney ou da Sony. Os 1.442 milhões de dólares que ‘Barbie’ embolsou fazem parte da intenção da Warner de apoiar o cinema nos cinemas: Zaslav não pode estar tão mal se consegue tanto. Foi precisamente este sucesso que permitiu que as suas contas fossem liquidadas no terceiro trimestre com um saldo positivo e acima das suas estimativas. ‘Meg 2’, outro dos maiores sucessos do ano, também é da Warner.
Zaslav fornece. No papel, o cancelamento de um projeto aparentemente infalível como ‘Coyote vs. Acme’ é um erro de cálculo, mas a verdade é que Zaslav é movido por critérios mais económicos do que artísticos: se o filme não for alugado na HBO e não se enquadrar no seu plano de grandes estreias teatrais, é cancelado ou vendido. Não é a primeira vez que Hollywood toma decisões deste tipo, e a verdade é que a política de Zaslav tem muitas arestas criticáveis (uma das principais, e ligada ao Coiote: deveríamos parar de maltratar os clássicos de animação da Warner), mas desde que como é economicamente eficaz, a roda continuará girando. Vamos ver o desempenho do último trimestre do ano.
Cabeçalho: Warner
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