Hoje ninguém se surpreende ao ver painéis fotovoltaicos ancorados nos telhados ou mesmo nas varandas das casas particulares. As famílias os instalam porque contribuem para o fornecimento de eletricidade. Se presumirmos que essas imagens são normais, por que o mesmo não aconteceria com a água potável no futuro? E se daqui a alguns anos as famílias tivessem os seus próprios geradores domésticos de água, um líquido obtido fora da rede pública, próprio para consumo e que pudesse ser obtido com pouco mais do que ar e energia solar? Um cenário semelhante a esse é o que a empresa Genesis Systems acaba de traçar durante a CES 2024.
E dado o desafio que a seca representa para uma parte relevante da península – tanto que nos leva a olhar com desconfiança para o próximo verão – tal proposta assume especial relevância.
Não diga gerador, diga WC-100. Assim, WC-100 WaterCube é o nome do dispositivo que a empresa Genesis Systems apresentou no 2024 Consumer Electronics Show (CES) em Las Vegas. O nome é bastante descritivo e ajuda a ter uma ideia precisa de para que serve esse grande aparelho, de 270 quilos: o WC-100 é um gerador de água projetado para residências e escritórios capaz de fornecer cerca de 120 galões por dia – equivalente a 455 litros – de água “limpa e fresca”. E tudo utilizando pouco mais que energia renovável e a própria umidade do ar.
IOT e energia renovável. O WC-100 foi concebido para ser alimentado por fontes de energia convencionais e renováveis, incluindo a fornecida por instalações fotovoltaicas. “É uma solução ecológica que evita poluição, subprodutos problemáticos e complicações dos direitos à água”, afirma a empresa. A sua proposta de abastecimento de água e combate à seca difere assim da dessalinização, processo que apresenta algumas desvantagens importantes, como o elevado consumo de energia ou a produção de salmoura residual, embora já existam investigadores à procura de formas de melhorar o seu funcionamento.
Outra das características do WC-100 que os seus criadores destacam é que foi concebido para poder ser utilizado a nível doméstico, em residências e escritórios que pretendam “eliminar” ou “reduzir” a dependência de fornecimentos externos. “Criptografado e habilitado para IoT (Internet das Coisas), com monitoramento remoto, detecção automática de falhas, segurança automática integrada, proteção EMP e otimização automática de desempenho”, enfatiza a empresa, que especifica que o dispositivo também permite monitorar a qualidade da água por meio de um aplicativo.
Capacidade para quatro pessoas. Em sua ficha técnica, a Genesis Systems especifica que o WC-100 foi projetado para residências de até quatro pessoas, que estima poderem ser abastecidas com os mais de 100 galões (378 l) de água doce diária que gera. Quem quiser utilizá-lo em residências maiores tem a opção de combinar várias unidades para conseguir um maior volume de líquido. A empresa especifica ainda que para funcionar em condições ideais o aparelho deve estar em ambientes com mais de 35% de umidade e temperatura entre 56º F mínimo e 110 ºF máximo, o que equivale a uma faixa de 13,3 a 43,3ºC.
A CNET especifica que em um ambiente de 26,6º C e com 50% de umidade, foi alcançada uma produção de quase 380 litros por dia. Com níveis de humidade mais baixos o aparelho continua a produzir água, embora em menor proporção. O aparelho também requer uma tensão de alimentação de 220 a 240 V e pode fornecer água sob demanda ou continuamente. Em relação ao líquido, a empresa garante que ele atende às exigências da EPA, agência de proteção ambiental dos EUA, e aos padrões da National Science Foundation. “Tinha um gosto melhor do que a água da torneira do meu hotel em Las Vegas”, disse o jornalista Jon Reed da CNET, que pôde provar um copo do resultado do WC-100 durante a CES.
Volumoso, em todos os aspectos. O WC-100 é volumoso. Seu arquivo mostra que ele pesa 600 libras (272 kg) e tem dimensões de 61,5 x 53 x 43” de comprimento, largura e altura, respectivamente. Na CES de Las Vegas ele veio com uma unidade ainda mais volumosa, pesando 360 kg (800 libras). Além da capacidade de gerar água, pode armazenar a bordo 50 galões, cerca de 189 litros. Para funcionar, necessita de filtros de água de 0,01 mícron e outros para ar e inclui tratamento de água ultravioleta, sistema de controle remoto, aplicativos para Android e Apple, sensor que controla o tanque e outros capazes de medir umidade.
O tamanho não é a única coisa volumosa do WC-100. A empresa espera ter unidades disponíveis durante o primeiro trimestre de 2024 e despachá-las antes de julho, mas conseguir um WC-100 não sairá barato: custa US$ 19.995 e para reservá-lo é preciso desembolsar US$ 500, embora Genesis Systems garanta em seu site que eles podem ser recuperados sem penalidade se o pedido for cancelado antes de sair para o destino.
Uma estratégia conhecida. O WC-100 WaterCube afirma usar a tecnologia RWA, que significa Renewable Water from Air. “Ele imita o processo da natureza para extrair água do ar”, ressaltam seus criadores. Embora na CES 2024 tenha sido apresentado como o primeiro aparelho habilitado para IoT do mundo, projetado para cobrir todas as necessidades de água doce de uma pessoa, extraindo-a do ar, sua abordagem não é inteiramente nova.
Outras empresas optaram por estratégias baseadas em AWH, que basicamente captam a água atmosférica e aproveitam a umidade ambiente com diferentes métodos. Bons exemplos são o sistema com gel higroscópico, sais e energia solar apresentado há pouco tempo pela Shanghai Jiao Tong University ou o Kumulus-1, um gerador de água atmosférica em forma de ânfora que, segundo os responsáveis, pode fornecer 20 a 30 l diários.
A própria Genesis Systems possui um modelo WaterCube 1000 capaz, afirma, de gerar entre 3.800 e 18.900 litros por dia, líquido suficiente para cobrir uma aldeia inteira, embora com o modelo W-100 visa outra área: a doméstica. Na verdade, o WC-1000 tem uma envergadura muito maior e pesa 18.000 libras, mais de 8.100 kg.
Imagens: Genesis Systems
Em Xataka: A dessalinização sempre foi a grande promessa contra a seca e ao mesmo tempo muito cara. Até agora