Gostaria de ver uma primeira edição de ‘Dom Quixote’ ou mergulhar nas páginas de um dos exemplares manuscritos de ‘Buscón’ de Quevedo? Gostaria de dar uma olhada em um códice manuscrito do século XIV com versos do ‘Livro do Bom Amor’, a famosa composição do Arcipreste de Hita? Se sim, você está com sorte. A sua biblioteca poderá crescer consideravelmente em número e valor graças à mais recente iniciativa da Real Academia Espanhola (RAE): abra as portas da sua Biblioteca Digital com um acervo de mais de 4.800 obras de extraordinário valor, títulos que você agora poder consultar gratuitamente e em primeira mão.
O usufruto dos tesouros da RAE já não está apenas ao alcance dos investigadores nem exige a visita pessoal ao seu arquivo.
Você está procurando leitura? Se você está procurando um bom livro para mergulhar, a RAE facilita isso para você. A instituição acaba de abrir a todos as portas da sua Biblioteca Digital, o que na prática significa que dá acesso a um vasto acervo documental de mais de 4.800 obras digitalizadas espalhadas por 5.250 volumes. Para consultá-los basta acessar a seção correspondente do site deles – aqui está o link – e começar a explorar. A título de antevisão, a academia anuncia que estão disponíveis obras únicas de clássicos da literatura espanhola, como Cervantes, Lope de Vega, Rosalía de Castro ou Rubén Darío.
Uma biblioteca… e uma viagem. Ao acessar a biblioteca digital da RAE você verá que os livros são classificados em diferentes categorias, como linguística, literatura, ciências sociais, biografias ou artes, por exemplo. Se clicar em algum deles, a academia o encaminhará para o catálogo de cada um desses temas, onde poderá consultar diretamente as obras digitalizadas com seus respectivos arquivos, seja online ou baixando-os em PDF.
Caso procure um livro específico, a RAE oferece-lhe um motor de busca com o qual poderá refinar a sua pesquisa especificando a categoria, materiais, idioma – há obras em francês, latim, português ou inglês, entre outras línguas, em além de galego, basco e catalão —ou ano de publicação. A biblioteca também destaca diversas obras em seu site, como o ‘Diccionario de la lengua castellana’ publicado entre 1726 e 1739; ‘Nas margens do Sar’, de Rosalía de Castro; ou ‘O Parnasso Espanhol’, de Quevedo.
Sem papel, mas com ferramentas. A biblioteca digital da RAE pode não ter estantes nem papel, mas incorpora algumas ferramentas úteis para o mergulho nas obras: o visualizador oferece diversas opções de consulta, incluindo “modo livro”, e o site inclui zoom e sistema OCR de reconhecimento óptico de caracteres , o que facilita muito o manuseio das obras caso você esteja procurando por uma palavra específica. Se quiser ver as obras em páginas individuais, poderá fazê-lo, como se optasse por baixar os títulos completos em formato PDF.
Mas… O que você pode ver? A grande biblioteca da RAE possui centenas de milhares de volumes. Para a sua versão digital, a instituição explica que fez “uma seleção na qual foram priorizados os títulos especialmente importantes”. Especificamente, os técnicos centraram-se nas características das obras, privilegiando exemplares únicos, raros ou com valor histórico, patrimonial ou editorial especial. O exemplo mais claro é provavelmente uma primeira edição da primeira parte de “Dom Quixote”, de 1605; ou uma cópia manuscrita do ‘Buscón’.
“Também foi dada prioridade à digitalização de obras de interesse dos usuários regulares da biblioteca da RAE, especialistas em língua e literatura espanhola e biografias, como ortografias, tratados de sintaxe, cartilhas, histórias do espanhol…”, afirma o Academia. Quanto aos autores, centrou-se nos “mais proeminentes” criadores espanhóis que escreveram entre os séculos XV e XIX, bem como nos clássicos latinos e escritores estrangeiros.
Um sonho para bibliófilos. O comunicado divulgado pela RAE para anunciar a novidade em seu catálogo digital é pura poesia para bibliófilos. A academia cita algumas das obras já digitalizadas que mereceriam lugar de destaque até nas mais seletas bibliotecas: o ‘Livro das Sortes’, de 1515; um manuscrito de ‘Don Juan Tenorio’ no qual ainda se podem ver as rasuras e correções feitas à mão por José Zorrilla ou o manuscrito de ‘Canção de Outono na Primavera’, de Rubén Darío.
A lista de joias editoriais é extensa e inclui incunábulos de obras como a ‘Gramática de Nebrija’ ou os ‘Provérbios de Sêneca’, bem como comédias dos séculos XVII e XVIII, a poesia de Berceo ou o ‘Códice Puñonrostro’. “Todas as obras digitalizadas já podem ser consultadas sem limites e com acesso gratuito […]. Depois de consultar na tela, você também pode baixar o trabalho em PDF”, enfatiza a RAE.
1,5 milhão de páginas. En total la Real Academia Española ha digitalizado cerca de 1,5 millones de páginas, una labor titánica que ha llevado a cabo con el respaldo de la Fundación María Cristina Masaveu Peterson, institución con la que la Fundación pro-RAE ha suscrito varios convenios durante os últimos años. Seu objetivo é adicionar progressivamente à lista aquelas obras que são digitalizadas a pedido de pesquisadores ou que a própria RAE considera de “especial relevância”.
O trabalho de digitalização do acervo documental da RAE começou em meados de 2021 e os técnicos o organizaram em três etapas. A primeira centrou-se em “cópias representativas da impressão manual”, que vão desde incunábulos a livros “raros” que foram lançados entre 1501 e 1830. A segunda cobriu o período de 1831 a 1900 e inclui obras como ‘Nos bancos de o Sar’ ou ‘Zaragoza’, de Pérez Galdós. E a terceira e última fase centra-se em manuscritos como uma cópia do século XIV do ‘Livro do Bom Amor’. A RAE especifica que do seu “rico fundo” de obras manuscritas já permite consultar, a título de apresentação, uma amostra de 15 títulos.
Imagem de capa: Real Academia Española (X)
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