‘The Snow Society’ foi nomeado para alguns Óscares (Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Maquiagem e Penteado) num ano particularmente bom para as produções espanholas (‘Robot Dreams’ de Pablo Berger foi nomeado para Melhor Filme de Animação). São dois filmes de qualidade extraordinária, mas como sabemos, os Óscares não são (só) sobre isso. Saber como vendê-los muitas vezes entra em jogo, e Nessa seção ‘The Snow Society’ também conseguiu se destacar.
Entre os interessantes produtos derivados do filme de JA Bayona, destaca-se ‘In the Snow Society’, um espetacular livro de fotografias assinado por Quim Vives, uma foto estática da produção (é o responsável, durante as filmagens, por tirar fotografias que posteriormente serão utilizadas como imagens publicitárias). Ao longo da produção, ele tirou nada menos que 160 mil fotos, das quais mais tarde selecionaria 400 para o livro.
Vives está envolvido no projeto desde que acompanhou Bayona ao Uruguai em 2018, onde o diretor entrevistou os sobreviventes da tragédia que deu origem ao filme. A partir daí houve uma filmagem muito complicada em que tiveram que aguentar 150 dias nas altas montanhas, a 3 mil metros de altitude. Tudo isso se reflete no livro, um bom testemunho da odisséia o que a gestação do filme implicou.
‘In the Snow Society’ é mais do que apenas um realização de. É um livro-objecto tão luxuoso que custa cerca de cem euros e foi desenhado com extremo cuidado: o embalagem É semelhante à caixa preta de um avião e possui uma aba que deve ser quebrada para acessar o volume. Ou seja, é um instrumento de marketing perfeito.
O caminho para o Oscar
A importância do Oscar na carreira comercial de um filme (pode agregar entre 10% e 50% à receita de bilheteria) faz com que os passos para levar um filme aos finalistas sejam estudados com muito cuidado. Desde os percentuais de eleitores (94% brancos, 77% homens, 62 anos em média) até a campanha promocional que inclui exibir o filme para acadêmicos com exibições especiais ou investir em publicidade e promoção (desde jantares e festas até presentes que incluiriam itens como este livro).
Em 2016, a ‘Variety’ estimou um gasto de investimento entre três e dez milhões para promover um filme. Números esmagadores que nomes da indústria como a atriz Susan Sarandon criticaram abertamente. E é um trabalho que vai além de agradar os acadêmicos com festas e presentes: como disse a jornalista Alissa Wilkinson no Vox, trata-se de gerar uma narrativa para o filme que funcione. Por exemplo, a narrativa do “pequeno filme competindo com os gigantes da indústria” ou do “filme artístico contra o cinema como negócio”, que tão bem funcionou para ‘Nasce Uma Estrela’.
Também deve-se levar em conta que por trás de ‘The Snow Society’ está a Netflix, uma produtora que nos últimos tempos ganhou fama por seus investimentos espetaculares em marketing enfrentando o Oscar. Ele faz isso desde 2019 com ‘Roma’, no qual investiu US$ 25 milhões em promoção, o que gerou comentários como “é como se eles tivessem recursos ilimitados”.
O curioso sobre todos esses esforços é que eles vêm originalmente de um pária da indústria: Harvey Weinstein. Foi o agora defenestrado produtor que, com a Miramax, fez das festas, dos presentes caríssimos, dos encontros com atores e até da pressão com a máfia conotar um cânone para promoções antes do Oscar. Mas funcionou, como mostra o fato de que filmes agora esquecidos (para dizer o mínimo) como ‘Shakespeare Apaixonado’ conquistaram os prêmios.
O livro ‘The Snow Society’ faz parte desta dinâmica. É um livro que ajuda a gerar outra narrativa querida em Hollywood: o de “um filme cuja gestação foi uma odisséia com paralelos com a ficção que descreve”. O cinema como um sacrifício tão popular na indústria, que também neste caso metralha o espectador com valores como a superação das adversidades ou a condição humana se impondo às forças da natureza. Tudo isso está nas entrelinhas de um livro que não é apenas um excelente “making of”. É também mais um passo na corrida rumo à preciosa estatueta.
Cabeçalho: Foto de Quim Vives
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