Enquanto a situação se torna cada vez mais insustentável, o Governo andaluz já está no seu quarto decreto de seca e Juanma Moreno, o presidente da comunidade, foi à Europa pedir que o Fundo Europeu de Solidariedade seja activado face a “uma catástrofe”. “natural” que está a colocar milhões de andaluzes numa “situação extrema”.
Mas, como diz o ditado popular andaluz, “um cão fraco é só pulgas”. E água radioativa começou a sair das torneiras em algumas áreas da região.
Uma história mais longa do que parece. Já em abril de 2023, o abastecimento de Chercos (Almería) teve de ser cortado e o problema afeta atualmente vários bairros da capital Almería e do distrito de Maro, em Málaga. Porém, o grande ‘susto’ ocorreu no início do ano.
No dia 30 de dezembro, a dessalinizadora Campo de Dalías que garante o abastecimento aos mais de 100.000 habitantes de Roquetas de Mar quebrou e o sistema começou a distribuir a água dos Poços Bernal; local que, desde setembro, era conhecido por apresentar níveis de radioatividade superiores aos estabelecidos.
Quase imediatamente, o abastecimento foi cortado e, durante os dois dias necessários para consertar a dessalinizadora, os moradores de Roquetas tiveram que ser abastecidos com água transportada em caminhões. Ou seja, a segunda cidade de Almería e a décima terceira da Andaluzia já foi afetada por elevados níveis de radioatividade. E o que nos resta ver.
Mas por que existe radioatividade na água? Por falta de água. Conforme explica o Ministério da Saúde, desde “a formação do planeta” existem radionuclídeos em rochas que “ainda não foram extintos por transmutação, porque são muito pouco radioativos e, portanto, têm meias-vidas comparáveis à idade do nosso planeta.” .
Ou seja, os radionuclídeos estão aqui, entre nós. E, embora nem todos sejam problemáticos a nível de saúde, se se acumularem podem afetar a saúde a longo prazo.
É aqui que entra a seca. A combinação da falta de chuva e da exploração excessiva dos aquíferos resultou em muito menos água disponível com uma quantidade semelhante de radionuclídeos. E isto, como aconteceu no verão com os pesticidas na albufeira Zamorano-Salmantino de La Almendra, faz com que a água acumule níveis perigosos para o consumo humano. É daí que vem a radioatividade.
A situação é tão ruim? Pior. Os reservatórios de Almería estão com 8,93% da sua capacidade e Viñuela, que serve a região de Axarquía, em Málaga (onde está Maro), está com 7,27%. Além disso, estamos a falar de zonas onde a agricultura é muito intensiva e isso exerceu uma pressão adicional sobre os aquíferos da região.
Mas o resto da Andaluzia não é muito melhor. No conjunto, os pântanos da província de Málaga estão em 15,75% e os de Cádiz, em 15,32%. Sevilha e Huelva estão um pouco melhores devido às tempestades das últimas semanas, mas não há nenhuma província andaluza que esteja sequer perto da média nacional. Esse é o desastre.
A contagem regressiva começou. A Andaluzia, tal como a Catalunha, anunciou que (se necessário) irá fretar navios para garantir o abastecimento de água às províncias mais afetadas: Almería, Málaga, Cádiz e, logo atrás, Córdoba. No entanto, existem muitas dúvidas sobre a viabilidade disto a médio prazo.
E, segundo estimativas do Governo andaluz, estes navios “podem transportar entre 40.000 e 100.000 m3 de água para os portos andaluzes”. Só a zona de Málaga gasta 66 mil por dia. Serão necessários muitos navios se a situação persistir por mais tempo. Muitos.
Na verdade, hoje em dia, os cortes de água provavelmente tornar-se-ão cada vez mais frequentes à medida que nos aproximamos do Verão. É verdade que os modelos meteorológicos começam a falar de uma mudança radical de tempo na segunda quinzena de fevereiro. Mas se aprendemos alguma coisa nestes meses é que temos de estar preparados. E é claro que muitas partes da Andaluzia estão atrasadas.
Imagem | Simão Lei
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