Tal como no transporte marítimo, ferroviário ou rodoviário, a indústria aeronáutica procura há já algum tempo formas de reduzir a sua pegada poluente. Em cima da mesa estão opções que vão desde a utilização de grandes ventiladores para capturar CO2 que lhe permitirão compensar o seu equilíbrio de emissões até à utilização de combustíveis mais sustentáveis, energia solar ou modelos eléctricos e a hidrogénio. A equipe do Airbus ZEROe afirma ter dado um passo fundamental nessa última frente, a da aviação elétrica a hidrogênio, e já avança com seus planos de realizar um teste de voo com uma aeronave de passageiros A380 em 2026.
O objetivo final: colocar em serviço uma aeronave movida a hidrogénio já em meados da próxima década.
Avança com a “cápsula de ferro”. A Airbus acaba de dar um passo em frente na sua corrida para conseguir aeronaves movidas a hidrogénio. Em junho de 2023, a empresa testou com sucesso um sistema de célula de combustível de hidrogénio que atingiu uma potência máxima de 1,2 megawatts, permitindo aos responsáveis falar da mais poderosa experiência realizada na aviação com uma célula de combustível feita para aeronaves de grande porte.
Restava o desafio de ir mais longe e integrar o sistema de propulsão completo com o motor elétrico. E foi isso que a sua equipa ZEROe, que procurava o primeiro avião comercial movido a hidrogénio do mundo, fez apenas algumas semanas atrás, no final de 2023.
“Um passo fundamental”. É assim que a Airbus define seu novo avanço na corrida para colocar em serviço aeronaves movidas a hidrogénio. No final de 2023, a ZEROe promoveu o “iron pod”, o sistema de propulsão a hidrogênio projetado para o conceito de aeronave elétrica da Airbus. Conforme detalha a empresa, além do sistema de célula de combustível, o “iron pod” contém os motores elétricos que giram a hélice e as unidades que os controlam e os mantêm resfriados.
“Depois de completar com sucesso os testes do sistema de células de combustível de 1,2 MW em junho e do sistema de propulsão de 1 MW em outubro, os motores elétricos da cápsula de ferro foram alimentados pela primeira vez por células de combustível de hidrogénio”, afirma a corporação europeia.
Quatro opções na mesa. Só porque o teste da “cápsula de ferro” foi importante não significa que seja o primeiro na corrida da Airbus para alcançar aeronaves movidas a hidrogénio. Em 2020, a empresa apresentou quatro conceitos diferentes de aeronaves: três usavam motores híbridos e de combustão de hidrogênio para obter potência; o quarto era totalmente elétrico, usando células a combustível de hidrogênio e um sistema de propulsão por hélice. Graças a uma reação química, as células de combustível permitem-lhes transformar hidrogénio em eletricidade com uma pegada de emissões quase nula: H2O é gerado durante o processo.
Embora se tratassem de conceitos, a multinacional apresentou quatro propostas: um avião com dois motores turbofan híbridos a hidrogénio para menos de 200 passageiros; uma aeronave com dois motores turboélice híbridos e hélices de oito pás e um modelo futurista de asa mista BWB com tanques de armazenamento de hidrogénio líquido localizados sob as asas. O quarto conceito é uma aeronave elétrica movida a células de combustível.
Cápsulas destacáveis em “tempo recorde”. No final de 2020, saiu da mesa de seus técnicos uma proposta de aviões com hélices independentes e modulares a hidrogênio, uma configuração com seis cápsulas que funciona como um sistema de propulsão de hélice independente alimentado por células de hidrogénio. Cada um desses “pods” é composto por uma hélice e um motor elétrico, entre outros elementos. “Cada ‘cápsula’ pode ser desmontada e remontada em tempo recorde, uma abordagem que poderá fornecer uma solução prática e rápida para manutenção e, potencialmente, reabastecimento de hidrogénio nos aeroportos”, destacou na altura a corporação europeia.
Células de combustível de hidrogênio. Uma das tecnologias em que a Airbus decidiu apostar nos últimos anos são as células de combustível de hidrogénio. O conceito não é novo e já existia no mercado quando a ZEROe iniciou seus esforços, mas como lembra a Airbus, a indústria aeronáutica enfrentou um desafio na hora de incorporá-los: não havia nenhum capaz de fornecer a energia necessária para impulsionar uma aeronave pesada. Para resolver isso, a Airbus uniu forças com a empresa automotiva alemã ElringLinger e criou a Aerostack, fundada em 2020 justamente para pesquisar, desenvolver e montar esse tipo de dispositivo pensando em futuras aplicações aeronáuticas.
Um calendário bem definido. Os últimos avanços da equipa ZEROe são apenas mais um passo na promoção da aviação movida a hidrogénio, um roteiro traçado a médio e longo prazo que – como a própria Airbus recordou em Janeiro – enfrentará dois grandes marcos ao longo dos próximos anos: 2026 e especialmente 2035, quando espera colocar em serviço uma aeronave viável. “O recente sucesso de alimentar o sistema ‘iron pod’ com 1,2 MW é um passo crucial em direção ao nosso objetivo de colocar uma aeronave movida a hidrogénio nos céus até 2035”, sublinhou em janeiro Glenn Llewellyn, diretor da ZEROe Aicrfrat na Airbus.
Antes do ZEROe terá que fazer o dever de casa. Os testes do “iron pod” continuarão ao longo de 2024 e, uma vez concluídos, a missão ainda será otimizar o tamanho ou a massa do sistema de propulsão para atender às especificações de voo. Entre outras questões, devem analisar como o sistema reage às vibrações, umidade e altitude. O próximo passo será a instalação do sistema de propulsão por célula de combustível na plataforma de testes de voo ZEROe e testes de solo antes do prato principal: o teste de voo no A380, já em 2026.
Imagem | Airbus
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