Na Xataka adoramos livros. Pode parecer óbvio, mas mesmo sendo usuários regulares de todo tipo de tecnologia, a velha sensação de abrir um livro e tropeçar em uma nova avalanche de ideias, diversão e conhecimento continua a ocupar boa parte do nosso lazer (e no caso dos mais sortudos, o nosso trabalho!). Com isso inauguramos uma nova série de posts em que os leitores mais fervorosos de Xataka contam o que estamos fazendo neste momento: não precisam ser os gêneros habituais em nosso site, apenas livros pelos quais somos apaixonados. Estas são as nossas recomendações atuais. E no próximo mês mais.
‘A idade compensa’, de William Gaddis
Foi fruto do acaso, mas nada parece mais adequado do que, agora que nos deparamos com a questão da conquista dos campos criativos da IA, ler um romance sobre os riscos da mecanização das artes, questão sobre a qual ele refletiu William Gaddis já desde as primeiras invenções que anteciparam esse evento: os pianos, aqueles instrumentos do século XVIII que criam música automaticamente. É a primeira vez que estou com este autor americano, cuja prosa se compara à complexidade de James Joyce, e que, apesar de não ser muito conhecido, influenciou autores da envergadura de Thomas Pynchon e David Foster Wallace. Ninguém disse que era fácil: são oitenta páginas que constituem um único parágrafo, um puro monólogo interno, palavreado sem cortes, de um homem que luta com a mente contra a sociedade moderna. Mas é possível que com ‘Ágape você paga’ aconteça como com outra obra intitulada em palíndromo, ‘Tenet’: não tente entender, sinta. Ester Miguel Trula
Agape Se Paga (NARRATIVA SEXTO PISO)
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‘Uma vegetação terrível’ e ‘MANIAC’, de Benjamín Labatut
O escritor chileno Benjamín Labatut especializou-se em escrever sobre (e nas) margens do irracional na ciência. ‘A Terrible Greenness’, publicado em 2020, é possivelmente o livro com o melhor primeiro capítulo dos últimos tempos: ali a descoberta do azul da Prússia, o primeiro pigmento sintético moderno, acaba por se tornar, um século e meio depois pela obra e graça da História, no Zyklon B usado pelos nazistas. É o sinal de partida para um trabalho sobre cientistas que vivem fora da humanidade, obsessões impossíveis de partilhar (e que mudam o mundo, nem sempre para melhor) e descobertas feitas por (quase) maníacos.
‘MANIAC’ é precisamente o título do seu próximo livro, publicado em 2023. Comparado com os seus trabalhos anteriores, ‘MANIAC’ não é uma coleção de vinhetas, mas uma nova revisão da ciência realizada quase à beira do desumano. Desta vez quem guia o ritmo, mais uma vez, frenético do livro é o matemático húngaro John Von Neumann, sua vida e seus enormes impactos em tantas áreas da física, da computação e de outros ramos da ciência. Montados nas costas de Neumann, vivemos um século de descobertas quânticas, horrores de guerra que podemos antecipar com precisão e a sensação de que “para o progresso não há…
Uma vegetação terrível: 646 (narrativas hispânicas)
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MANIAC (Narrativas hispánicas)
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‘A voz do vento’, de Pemon Bouzas
La península del Morrazo, entre la Ría de Vigo y la Ría de Pontevedra, es el escenario de la novela de Pemón Bouzas sobre las brujas, esas siervas de Satán que vivieron ejerciendo sus poderes y “meigallos” sobre los vecinos de las pequeñas aldeas de a zona. O romance tem uma profunda base de investigação na história documentada da caça às bruxas ocorrida nas Rías Baixas da Galiza entre 1619 e 1628. Vários moradores da região com nome e poder próprios, como María Soliño ou Catarina Pernas, foram acusados por nobres. Os vizinhos deixam de ter relacionamentos com demônios e de serem bruxas muito perigosas. Por esta razão as bruxas foram presas e levadas para Santiago de Compostela onde foram julgadas e torturadas pelo tribunal do Santo Ofício. ‘A voz do vento’ sussurra página por página a realidade de uma época e da sua cultura, a fome gerada pelo poder, ou melhor, a perda ou ausência dele. E o fato é que quem acusou as bruxas ficou com suas fortunas e pertences após a confirmação da sentença de ser…
A Voz do Vento (LITERÁRIO – EDIÇÃO NARRATIVA)
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‘O passado ficou para trás’ por Juan Pablo Villalobos
Szymborska disse que “os sonhos não são delirantes, a realidade é delirante”. E isso se vê perfeitamente em ‘O passado ficou para trás’ de Juan Pablo Villalobos: sabemos que se trata de autoficção (como sabíamos em ‘Não vou pedir a ninguém que acredite em mim’ e ‘Cabeleireiros e Letras’), mas mesmo nas partes mais loucas e improváveis, não podemos saber onde termina o “eu” e onde termina a “ficção”. Ele realmente deu um soco em um paciente com câncer de pâncreas? Ele morava em Guadalajara com a ex-mulher? Você tem uma galeria de imagens no WhatsApp digna de um traficante de drogas colombiano? O que importa: “qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, é como funciona um romance”.
Uma das principais virtudes de Villalobos sempre foi ser capaz de trabalhar em três níveis distintos: o da história hilariante e bem elaborada, o das sempre surpreendentes ideias metanarrativas e o da “exuberância poética e nervosa”, como se diria. revisor de The Big Issue. Já completei um terço e não há como me livrar dessa sensação de incerteza toda vez que viro uma página. Ele está loucamente perdido, sim; mas vale a pena a viagem. Javier Jiménez
O passado ficou para trás (narrativas hispânicas)
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