Se você está lendo este artigo em um smartphone, há uma grande probabilidade de que funcione com um chip ARM. Não importa se é iPhone ou Android. Esta arquitetura tornou-se o coração do smartphone e, graças à sua eficiência e desempenho, também começou a ganhar espaço no mundo dos portáteis.
A origem do ARM, entretanto, remonta aos primórdios da computação pessoal. No início da década de 1980, a BBC lançou um projeto de alfabetização em informática chamado The BBC Computer Literacy Project. A iniciativa, promovida pelo governo britânico, faria parte de um programa de televisão que buscava ensinar a usar computadores.
A inovação (e legado) da Acorn Computers
Para cumprir o seu objectivo, a BBC teve que disponibilizar ao público e às entidades educativas o computadores necessários para aprender. Para isso, estabeleceu uma série de requisitos e reuniu-se com diversos fabricantes para analisar cada uma das suas propostas. Havia empresas mais ou menos conhecidas, incluindo Sinclair Research, Dragon Data e Acorn Computers.
A Acorn tinha um microcomputador chamado Atom na época, mas não se qualificou para o projeto. No entanto, já há algum tempo que trabalhava numa proposta mais ambiciosa, uma proposta que provavelmente acabaria por conquistar a BBC, embora utilizasse um conjunto de instruções muito diferente de tudo o que se conhecia até então.
Na década de 1989, grande parte da computação foi impulsionada pela conjunto de instruções complexo, mais tarde conhecido como CISC, mas em vez de seguir esse caminho inerentemente complexo, a Acorn tentou simplificar as coisas. A resposta a esta necessidade foi a utilização de um conjunto reduzido de instruções (RISC).
A ideia era bastante ambiciosa. O RISC poderia reduzir drasticamente o número de instruções em comparação com o CISC e seria ideal para lidar com processadores de texto e planilhas. A BBC acabaria por chegar a um acordo com a Acorn para a fabricação do chamado BBC Micro, alimentado por um processador MOS 6502 a 1,8 MHz.
Posteriormente foi lançado o BBC Micro Model B, que incorporava uma interface proprietária chamada ‘Tube’ cuja funcionalidade era permitir a adição de um processador adicional. O sistema suportava diversos chips da época, como o MOS Technology 6502 e o Zilog Z80, mas também uma alternativa bastante peculiar, o primeiro processador ARM denominado ARM 1.
O primeiro chip ARM da história, desenvolvido por uma equipe de Steve Furber e Sophie Wilson, permitiu que a Acorn tivesse sua própria alternativa britânica aos populares computadores IBM PC e Apple Macintosh no mercado dos EUA. Foi um desenvolvimento experimental que lançou as bases para o Acorn Archimedes, um computador pessoal vendido com o sistema operacional Arthur, mais tarde denominado RISC OS.
Apesar desses avanços, a Acorn estava passando por uma situação financeira complicada. Dois meses antes havia sido resgatado pelo Grupo Olivetti. Esse movimento foi o prelúdio para uma mudança muito maior. No final de 1990, a Acorn juntou-se a uma joint venture com a Apple Computer (agora Apple Inc.) e a VLSI Technology (agora NXP Semiconductors NV) para formar a Advanced RISC Machines Ltd.
Os chips ARM já começavam a mostrar um enorme potencial para o mundo móvel, onde as melhorias nas dimensões, no consumo de energia e na geração de calor eram fundamentais. Em 1993, por exemplo, o Apple Newton abraçou esta arquitetura. Embora este produto tenha sido um verdadeiro fracasso para a empresa apple, deixou uma lição importante para a ARM.
Robin Saxby, CEO da Advanced RISC Machines Ltd. teve uma ótima ideia: a empresa deveria criar um de negócio de propriedade intelectual (IP, por sua sigla em inglês). Assim, os chips ARM poderiam ser licenciados para muitas empresas por meio de uma licença e, se isso não bastasse, você poderia receber royalties pela quantidade de processadores produzidos.
Esse movimento fez com que a arquitetura ARM atingisse um enorme mercado. Um acordo com a Texas Instruments permitiu que o fabricante móvel mais importante do momento, NOKIA, adotasse chips ARM em seus dispositivos. O NOKIA 6110 foi um sucesso tão retumbante que o chip que incorporou, o ARM7, também se tornou um sucesso.
O que aconteceu a seguir nos traz aos tempos em que vivemos atualmente. Cada vez mais fabricantes de dispositivos móveis começaram a adotar esta arquitetura. E, a maioria dos smartphones, nasceram diretamente com ARM no coração. O iPhone, lançado em 2007, tinha esse processador. Era o APL0098 de 412 MHz.
Hoje, você poderia dizer que quase todos os smartphones vendidos no mercado são equipados com ARM. A empresa por trás da arquitetura, atualmente chamada ARM Holdings, tem mais de 6.000 funcionários. Sua propriedade intelectual não está presente apenas em celulares, mas também em laptops e desktops.
O Apple A17 Pro e o Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3, dois dos processadores móveis mais poderosos do mercado, são baseados na arquitetura ARM. São chips que podemos encontrar nos carros-chefe iPhone 15 Pro e Samsung Galaxy S24 Ultra. Nos computadores, a ARM obteve enorme sucesso nos equipamentos Apple desde o lançamento do prodigioso Apple Silicon M1.
Imagens | BRAÇO | Blake Patterson | Pedro Howkins
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