A ciência às vezes se apresenta com paradoxos, e este é um deles. Uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA descobriu a presença de cianeto de hidrogênio em Encélado, uma das luas de Saturno. Este é um composto volátil, tóxico e inflamável… mas também um ingrediente para a vida.
Cianeto em Encélado. Uma equipe de pesquisadores do JPL confirmou a presença de cianeto de hidrogênio nesta lua de Saturno. Embora seja um gás tóxico, sua relação com os seres vivos é mais complexa, a ponto de ser considerado um dos compostos fundamentais no surgimento da vida.
O estudo também se concentrou em outro aspecto fundamental deste satélite: o seu oceano. Segundo os autores, as águas de Encélado poderiam ter uma grande capacidade de armazenar energia em seus produtos químicos, por meio de compostos como os que alguns organismos utilizam aqui na Terra.
“Nosso trabalho fornece novas evidências de que Encédalus mantém algumas das moléculas mais importantes tanto para criar os blocos de construção da vida quanto para sustentá-la através de reações metabólicas”, disse Jonah Peter, um dos autores do estudo, em um comunicado à imprensa.
Ponto de partida. O cianeto de hidrogênio é, nas próprias palavras de Peter, o “ponto de partida da maioria das teorias sobre a origem da vida”. O que torna esta molécula tão especial é a sua versatilidade na criação de aminoácidos, um dos componentes fundamentais para o surgimento da vida. A ponto de alguns chamarem essa molécula de “canivete suíço dos precursores de aminoácidos”.
A equipe de especialistas tentou encontrar hipóteses alternativas sobre como poderiam ter se formado os compostos químicos presentes nas penas de Encédalus. Essas plumas são jatos de água expelidos das camadas inferiores do oceano que circunda este satélite, semelhantes às ejeções de água produzidas pelos gêiseres.
Um oceano por bateria. Os cientistas já sabiam da capacidade do oceano de Encédalus de armazenar energia através do processo de metanogênese, ou criação de metano. Essa energia também pode ser extraída graças à oxidação de alguns compostos orgânicos.
Compostos orgânicos oxidados que foram encontrados em grande variedade em Encélado, o que levou os pesquisadores a deduzir que o satélite possui mais mecanismos químicos além do metano para armazenar energia química para ser posteriormente utilizada por hipotéticos organismos vivos.
20 anos de missão (e além). Os dados utilizados pelos pesquisadores foram coletados pela sonda Cassini, missão da NASA que entre 1997 e 2017 estudou Saturno e algumas de suas luas. A sonda terminou seus dias imolada na atmosfera do gigante gasoso, mas os cientistas ainda aproveitam a grande quantidade de dados que ela coletou durante seus 20 anos de serviço.
Nesta ocasião, os pesquisadores aproveitaram o espectrômetro de massa neutra e de íons a bordo da sonda para entender melhor a composição dos gases e sólidos emanados por Encélado. Detalhes do trabalho foram publicados em matéria da revista Astronomia da Natureza.
Procurando vida fora de nossas fronteiras. Encélado é um dos grandes candidatos a hospedar vida extraterrestre em nosso ambiente imediato. Como outros satélites gelados, possui muitos dos ingredientes básicos, tanto químicos quanto físicos. É por isso que agências espaciais como a ESA e a NASA têm missões, algumas já em curso, destinadas a analisar estes corpos peculiares.
Isso significa que dentro de alguns anos começaremos a receber novos dados sobre esses locais. Entretanto, alguns cientistas consideram que os dados antigos são suficientes para responder a algumas das suas questões.
Em Xataka | Pode haver vida nas luas de Saturno?
Imagem | NASA/JPL-Caltech/VTAD / NASA/JPL/Instituto de Ciências Espaciais