A teoria da relatividade geral publicada por Albert Einstein em 1915 estabelece, entre muitas outras ideias revolucionárias na época, que nenhum objeto com massa pode mover-se no continuum espaço-tempo a uma velocidade maior que a da luz. Para conseguir isso, grosso modo, você precisaria de uma quantidade infinita de energia, algo que claramente não é possível. Mas isto não é tudo. Além disso, durante a aceleração sofreria um aumento de massa incomportável e uma deformação resultante da compressão do espaço, entre outros efeitos que não são fáceis de ajustar (explicamos este processo com mais detalhes no artigo que linko aqui). Ainda assim, as barreiras impostas pelas leis da física, felizmente, não representaram um obstáculo para os escritores de romances de ficção científica. E também não para alguns cineastas. E em muitos dos seus trabalhos eles descrevem um mundo em que as viagens espaciais em velocidade hiperluminal são possíveis, o que dá aos seres humanos a possibilidade de se moverem de um sistema estelar para outro, e até mesmo de uma galáxia para outra, em um período de tempo perfeitamente aceitável pelo homem. Os fãs de ficção científica já desfrutaram desse recurso em diversas ocasiões, tanto no cinema quanto na literatura. A ficção científica é muitas vezes inspirada pela ciência formal para tomá-la como ponto de partida e dar um passo (ou vários) adiante, mas esta fórmula também funciona ao contrário. E alguns cientistas admitem abertamente ter aceitado o desafio que os ideólogos da ficção científica às vezes lhes lançam com o propósito de flertar com a possibilidade de colocarem as suas ideias em prática. O físico mexicano Miguel Alcubierre é um deles e sua proposta é emocionante. No entanto, antes de avançarmos, temos de colocar as regras em cima da mesa. Entramos num terreno puramente especulativo e conceptual, em que o mais importante é respeitar as leis da física e não quebrá-las. A partir daí, o próximo desafio é identificar se o nosso atual desenvolvimento tecnológico nos permite colocar em prática a proposta teórica que traçamos como ponto de partida. Foi precisamente este o caminho que Miguel Alcubierre trilhou em 1994. Atualmente dirige o Instituto de Ciências Nucleares e o Departamento de Gravitação e Teoria de Campos da Faculdade de Ciências da Universidade Nacional Autônoma do México. Sua especialidade são buracos negros, ondas gravitacionais, matéria escura e teoria da gravitação. E, além de tudo isso, confessa ser apaixonado por ficção científica. Na verdade, a ‘métrica de Alcubierre’, que é o modelo matemático que ele desenvolveu para propor uma forma de viajar através do continuum espaço-tempo mais rápido que a luz, surgiu-lhe enquanto assistia a um episódio de ‘Star Trek’. A proposta de Alcubierre: propulsão por distorção do continuum espaço-tempo. A propulsão por distorção do continuum espaço-tempo proposta por Miguel Alcubierre em meados dos anos 90 inspirou muitos cientistas. Para cientistas sérios que tomaram isso como um estímulo para se alimentarem desenvolver ideias originais. Um deles é o físico e engenheiro mecânico e aeroespacial americano Harold ‘ Sonny’ White, cuja carreira profissional tem sido em grande parte na NASA. Em 2011 este cientista publicou um artigo intitulado ‘Warp Field Mechanics 101’ que toma como ponto de partida as ideias de Alcubierre e no qual propõe, entre outros conceitos interessantes, uma estratégia para reduzir drasticamente a energia necessária para desencadear a distorção do espaço que tornaria é possível viajar mais rápido que a luz. Segundo White, se a bolha que confina a espaçonave e induz a deformação não tivesse formato esférico e era um touro (é uma figura geométrica em forma de donut) a energia necessária para realizar esta operação seria muito menor. No final de julho Harold White publicou um artigo no qual afirma ter identificado uma nanoestrutura que prevê a existência de energia negativa.