Em 2009, James Cameron lançou “Avatar” e nossos colegas da Espinof o descreveram como “o espetáculo absoluto”. Foi na época, é claro, e desencadeou a febre 3D. Esse termo se tornou o conceito tecnológico da moda e todos queriam se inscrever para receber esse conteúdo.
E então, pouco a pouco, o 3D ficou embaçado. Parecia que eles tinham morrido.
Mas eles podem não ter feito isso. Não pelo menos se o que a Apple nos ensinou com o Vision Pro acabar se concretizando como parece que poderia. Já falamos muito sobre o Vision Pro – e o que nos resta – e como apontei nas minhas primeiras impressões, no momento para mim O ‘aplicativo matador’ desses óculos são os vídeos envolventes.
É quase impossível transmitir o que se sente ao assistir a esses vídeos com os óculos de realidade mista da Apple. A demonstração que a empresa oferece nesse lançamento mostrou, por exemplo, Alicia Keys em sua sala de ensaio por alguns segundos, mas assistir aquele vídeo no YouTube não tem absolutamente nada a ver com vê-lo como um vídeo espacial. É a mesma coisa, mas não é a mesma coisa. E não é porque os vídeos espaciais ou imersivos do Vision Pro realmente levam você a esse lugar.
Não sei se com o passar do tempo a gente vai se acostumar com esses vídeos e eles não vão mais chamar tanta atenção, mas tanto este como os outros – por exemplo, apareceu um fragmento de um jogo de futebol, uma cena com rinocerontes que você quase poderia tocar ou, o que mais me impressionou, uma família brincando no parque com seu cachorro— Eu (nós) os achamos incríveis. Eu gastaria US$ 3.500 (mais impostos) para desfrutar de algo assim? Duvido, mas a proposta aponta para uma pequena revolução.
Aquele em que a febre 3D retorna com força total.
Vídeos espaciais são vídeos 3D
Porque? Bem, pela simples razão de que os vídeos espaciais do Vision Pro são essencialmente vídeos 3D. Não existem graus de liberdade de movimento – embora haja quem já experimente esta opção marcante – e simplesmente contempla-os a partir de um ponto de vista fixo que não pode ser modificado.
O formato usado pela Apple para esses vídeos é o MV-HEVC (Multiview HEVC), uma espécie de extensão do formato HEVC cujo objetivo é claro: codificar de forma eficiente dois quadros de vídeo com perspectivas diferentes para que a compressão seja a máxima possível sem prejudicar (muito) a qualidade. Conforme indicado no XRealityZone, o formato MV-HEVC também é compatível com decodificadores HEVC, portanto, esses vídeos espaciais podem ser reproduzidos em dispositivos normais que podem visualizá-los como vídeos 2D sem mais delongas.
Algo semelhante acontece com as fotos espaciais HEIC: o padrão pode ser usado para codificar uma única imagem, mas também várias, e então é o visualizador e o hardware que aproveitam essa informação extra, se houver.
Como alguns comentaristas explicaram em um tópico no Reddit, é possível converter vídeos espaciais gravados com o iPhone 15 Pro e 15 Pro Max em vídeos “tradicionais” 3D SBS (Side By Side) que pode então ser visualizado em hardware preparado para esse formato. Aplicações como Spatial Video Converter (3,99 euros na App Store) teoricamente já o permitem, e “simuladores” como este reproduzem a experiência Vision Pro no Meta Quest. Nessa discussão falaram sobre o Quest 3 —Meta publicou uma atualização para ver esses vídeos sem problemas, na verdade—, mas qualquer “tela” que suporte esses vídeos permite que você os aprecie.
Outro tópico do Reddit explicou que a vantagem do formato MV-HEVC é que não é necessário definir manualmente a convergência (profundidade) da esena. Esse processo era complicado, mas agora esses dados são salvos automaticamente no arquivo, analisando os sinais (frames) esquerdo e direito que chegam e calculando o delta entre os dois. Isso também ajuda a reduzir o tamanho final desses arquivos 3D.
Tentando assistir vídeos espaciais na minha antiga TV 3D
Deixe que me contem: em casa que compramos há anos uma Smart TV LG de 47 polegadas para a sala e na verdade ainda é a televisão que lá temos, e esta televisão oferecia a possibilidade de ver conteúdos 3D com os óculos que a televisão incluía. Há anos praticamente esqueci essa opção, mas hoje coloquei os óculos novamente para testar se conseguia assistir a vídeos espaciais do iPhone 15 Pro.
E de fato, é possível. Existem vários disponíveis online, e por exemplo basta procurar termos como “3d sbs iphone 15 pro” no YouTube para aceder a estes pequenos testes. Depois de colocar um, você ativa o modo 3D da TV, coloca os óculos e bum. Existe o conteúdo espacial.
Aqui devo admitir que a sensação de imersão, embora marcante, não é tão impactante quanto a oferecida pelo Vision Pro. As imagens obviamente não nos permitem capturar o resultado, mas você vê aqueles vídeos 3D de uma forma bastante decente.
Quero que meu telefone grave vídeos espaciais
A Apple deixou claro que apenas o iPhone 15 Pro e o iPhone 15 Pro Max podem capturar esse tipo de vídeo. Porque? A Apple não deu detalhes a esse respeito, mas uma das chaves parece estar em alinhamento do sensor de seus smartphones.
O segredo é que no iPhone 15 Pro e Pro Max o sensor principal e o ultra grande angular estão alinhados e combinados para poder gravar esses vídeos espaciais sem problemas. No iPhone 14 Pro e Pro Max, por exemplo, esses sensores não estão alinhados, o que parece tornar improvável que a Apple possa (ou queira) ativar essa opção nesses telefones.
Mas não deixe a Apple fazer isso Isso não significa que outros não permitam.. Na App Store existem aplicativos como o i3DMovieCam que permite “usar duas câmeras colocadas lado a lado com diferentes distâncias focais na parte traseira da câmera para gravar vídeos sincronizados”.
Esse tipo de opção não é nada nova: o HTC EVO 3D lançado em 2011 tinha uma “tela 3D” e um sistema de câmeras que aproveitava justamente aquela linha de sensores (5MP, sim) para capturar vídeos 3D.
Isso sugere que a opção de gravar vídeos espaciais ou vídeos 3D acabará presente mais cedo ou mais tarde em muitos telefones Android, tanto antigos – provavelmente por meio de aplicativos de terceiros – quanto novos.
Na verdade, essa opção pode torna-se um novo argumento de compra para modelos futuros de todos os fabricantes. Não parece absurdo pensar que Google, Samsung, Xiaomi e outros acabarão oferecendo novos terminais com um módulo de câmera renovado, projetado precisamente para capturar imagens e vídeos espaciais de forma nativa e com melhor qualidade do que nunca.
Aqui parece importante que esses sensores estejam alinhados quando