A União Europeia está determinada a apostar fortemente nas energias renováveis, incluindo a quota da energia solar fotovoltaica. E essa determinação vem acompanhada de um investimento considerável que já foi realizado nos últimos anos e que provavelmente continuará nos próximos anos. Conscientes dos desafios que esta transição energética acarreta, um grupo de investigadores de Portugal tem procurado formas de a facilitar, especialmente numa das suas vertentes mais sensíveis: a financeira. O resultado é uma abordagem promissora que, dizem, permitirá que as instalações fotovoltaicas se paguem em menos de cinco anos.
E o que é mais importante: reforça a sua atratividade para potenciais investidores e interessados em apostar em painéis solares.
Um velho (e promissor) conhecido. O que investigadores da Universidade de Lisboa e da Academia Militar fizeram foi olhar para um velho conhecido: o Agri-PV, também conhecido como agrivoltaico ou agrovoltaico. Antigo e acima de tudo promissor. Já falamos com você sobre seu potencial em algumas ocasiões.
A abordagem foi proposta na década de 1980, embora só tenha começado a popularizar-se na última década, e baseia-se fundamentalmente na procura de sinergias entre os sectores agrícola e energético, aproveitando o facto de ambos partilharem a mesma necessidade: terra . Nas instalações agrovoltaicas, os painéis solares são implantados em terrenos dedicados ao cultivo agrícola ou pecuário. A ganha-ganha.
O seu potencial em Portugal. O objetivo dos investigadores portugueses era estudar a viabilidade do Agri-PV no seu país e, no processo, compreender melhor os seus pontos fortes para facilitar a transição energética e garantir a segurança alimentar.
Portugal acaba por oferecer um “laboratório” natural ideal para estudo: além de oferecer boas características climáticas para a produção de energia fotovoltaica, como Espanha, a agricultura tem um peso de destaque no país. O próprio estudo português estima que cerca de 12% do território nacional seja constituído por parcelas cujo “principal destino” é a agricultura, paisagens denominadas RAN, Reserva Agrícola Nacional.
Fotovoltaica, até. Outro factor que faz de Portugal um interessante “laboratório” ao ar livre é que prevê investir fortemente em energia fotovoltaica. O PNEC (Plano Nacional de Energia e Clima) contempla que o país tenha 7,8 a 9,3 GW de energia solar, muito acima do valor actual.
E este aumento – comentam especialistas da Universidade de Lisboa e da Academia Militar – significa que a nação vai precisar de “muito investimento e disponibilidade de terrenos para atingir o objetivo”. “Isso pode ser feito através da instalação de parques solares fotovoltaicos em território RAN integrados com a implementação do Agri-PV para que nenhuma lei seja transgredida”, conclui a equipe.
Comparando parcelas. Para tirar conclusões, a equipa portuguesa testou vários designs de painéis com células solares de silício monocristalino, um com estruturas elevadas e outro com filas espaçadas de painéis. Dos dois, foi o último que apresentou maior potencial. Os painéis foram colocados com distância de meio metro entre conjuntos e 5 m entre linhas para melhorar a cobertura do solo. Para que a instalação otimizasse a produção de energia, a equipe também incorporou rastreadores do movimento do Sol.
Os investigadores portugueses também estudaram e compararam diferentes cenários em que a energia obtida nas instalações era vendida ao mercado. No caso dos agricultores que não estavam dispostos a vender energia num mercado flutuante, por exemplo, foi estimado um preço fixo de 43€/MWh.
Parte de sua atenção se concentrou nas culturas, incluindo espécies “amigáveis à sombra” projetadas por módulos fotovoltaicos. “Foi escolhida uma alface que cumprisse os requisitos e fosse produzida em todo o território de Portugal”, detalha a equipa em declarações divulgadas pela PV-Magazine: “As outras duas culturas, embora um pouco menos amigas da sombra, são o tomate e a batata”. .
Amortizando o investimento. Durante o estudo foram analisados cenários em que a parcela era dedicada apenas a usos agrícolas, apenas a energia fotovoltaica, ou ambas as aplicações eram mistas. “Ao somar os valores de ambos os componentes, observa-se que o investimento inicial é menor, bem como o tempo de recuperação em relação a ambas as aplicações, sejam espaçadas ou altas”, indica a análise antes de concluir que os prazos de amortização do os projetos são estimados em cerca de quatro a cinco anos, abaixo de outras estimativas para instalações padrão. “Conclui-se que o Agri-PV vale mais do que apenas o PV ou apenas a produção agrícola.”
“Os projetos propostos revelam um LCOE (custo nivelado de eletricidade) inferior ao preço da energia no mercado ibérico, o que indica a viabilidade financeira do projecto”, abundam os especialistas. Para concluir, apontam o potencial do Agri-PV para resolver “dois dos problemas mais preocupantes” que os países enfrentamos hoje: o abastecimento energético e alimentar. “Para enfrentar esta situação foi necessário conceber soluções e uma delas foi a combinação da agricultura com sistemas solares fotovoltaicos”, sublinham os especialistas.
Objetivo: um “ganha-ganha”. “Para o estudo AgriPV, tanto a agricultura como a produção fotovoltaica estão separadas para facilitar a compreensão dos resultados. Somando os valores de ambos os componentes, observa-se que o investimento inicial é menor, assim como o tempo de retorno em ambas as aplicações, sejam espaçados ou elevados – acrescentam – Estes projetos, além de aumentarem a produção de energia verde e reduzirem o consumo de fontes de energia não renováveis, também reduzem a quantidade de CO2 libertado e se a instalação for projetada para superar o autoconsumo, pode servir como fonte de energia.”
Imagens: Câmara AgriSolar (Flickr) e Rafael Faustino Ferreira et al. em Energia para o Desenvolvimento Sustentável
Em Xataka: Painéis solares verticais que funcionam dos dois lados: a ideia de uma empresa para promover a “agrivoltaica”