As últimas imagens publicadas pela Agência Espacial Europeia (ESA) da “Cidade Inca” em Marte podem despertar a aracnofobia em alguém. No entanto, o que vemos tem pouco a ver com aranhas.
E obviamente, também não com a civilização Inca.
Aranhas de Marte. A ESA publicou recentemente imagens de Marte diferentes daquelas a que estamos habituados do “planeta vermelho”. É uma imagem na qual se podem ver inúmeras marcas escuras formadas por pontos dos quais emergem linhas como braços ou apêndices que dão a esses pontos o aspecto de um asterisco ou aranha.
No entanto, esta imagem tem pouco a ver com artrópodes ou sinais ortográficos. São formações geológicas naturais causadas pela chegada da primavera na região polar sul do planeta vizinho.
Géiseres de CO2. Como explica a própria ESA, o processo de formação destas “aranhas” começa quando a luz solar aquece as camadas de dióxido de carbono (CO2) atmosférico que foram depositadas durante o inverno. O CO2 no estado sólido do solo passa para o estado gasoso. Como o gás mais profundo aquece primeiro, acaba quebrando a camada superior.
Isso gera uma erupção semelhante à de um gêiser. O CO2 arrasta consigo partículas mais escuras do solo que contrastam com o resto da superfície. O resultado são essas formações, cujo diâmetro pode variar entre cerca de 45 metros e um quilômetro.
TGO. A imagem foi capturada pela sonda TGO (Orbitador de gás traço ExoMars) da ESA. Esta sonda é a primeira parte do programa ExoMars, que em 2028 pretende lançar o primeiro Andarilho Europeu, o Rosalind Franklin, para Marte.
Esta primeira parte da missão consiste numa sonda que orbita o planeta vizinho desde 2016. Este satélite artificial estuda à distância a atmosfera marciana, entre outras coisas, analisando as suas mudanças ao longo das diferentes estações do planeta.
Cidade Inca. A nova imagem foi capturada ao analisar a região polar do hemisfério sul de Marte. Mais especificamente, a chamada “Cidade Inca”. Esta formação geológica também deve o seu nome a uma pareidolia, já que as suas falésias lembram à distância as ruínas de alguma cidade antiga.
Segundo a ESA, não temos muita certeza da origem geológica desta curiosa formação. As hipóteses incluem a possibilidade de que seja o resultado da petrificação de dunas de areia, ou talvez seja o resultado de magma ou areia escoando ao longo de fraturas na rocha marciana.
O que sabemos é que estas “paredes” fazem parte do perímetro de uma cratera marciana. Isso teria surgido como resultado do impacto de algum asteroide na superfície do planeta.
Pareidolias. O fato de vermos aranhas ou cidades de civilizações perdidas nessas formações geológicas se deve ao fenômeno que chamamos de pareidolia. Esse fenômeno é o resultado de nosso cérebro encontrar padrões que associa a elementos reconhecíveis.
As rochas marcianas produziram inúmeras pareidolias, talvez a mais conhecida seja a da “face de Marte”. Não é o único. Nos últimos anos, por exemplo, vimos de tudo, desde ursos até portas na superfície do “planeta vermelho”.
Este fenómeno vai mais longe. Às vezes pode ser tão inocente como ver um rosto sorridente ao Sol. Outras vezes dá origem a curiosos fenômenos sociológicos que levam a viajantes do tempo ou divindades que se manifestam ao pequeno-almoço.
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Imagem | ESA/TGO/CaSSIS