A habitação não para de aumentar em Espanha. Pela primeira vez desde a crise de 2008 O limite de 2.000 euros por metro quadrado em média foi ultrapassado. Os motivos variam dependendo da comunidade, mas a maioria está relacionada com a falta de oferta e a baixa criação de novas propriedades, a elevada demanda e o aumento do custo da construção. Perante esta situação, os preços das casas registaram um aumento homólogo de 7,2% no ano passado. situação que levou mesmo a União Europeia a notificar a Espanha que esse preço está sobrevalorizado.
No entanto, há outro facto surpreendente sobre este fenómeno: mesmo quando o preço é tão elevado, mais de metade das compras de casa em Espanha são feitas sem hipoteca.
Os dados. É o que emerge dos dados do Instituto Nacional de Estatística e do última reportagem da Funcas, que conclui que apenas quatro em cada 10 vendas exigiam hipoteca. Quer dizer, Mais da metade das pessoas compram sua casa aleatoriamente. Dos 832.756 imóveis vendidos de janeiro a outubro do ano passado, último dado disponível, apenas 323.998 foram adquiridos com hipoteca, 38,9%. Os números caem ainda mais se considerarmos apenas aqueles que passam por uma imobiliária.
Um pouco mais abaixo, mas na mesma linha, estão os dados do Colégio Geral dos Notários, que indicam que metade das casas em Abril passado foram adquiridas financiadas com hipoteca. Todas as análises concordam que cada vez mais casas são compradas pagando em dinheiro e a tendência é aumentar.
Que significa? Em termos gerais, há pessoas, muitas pessoas, que pagam de vez em quando para não serem obrigadas a pagar juros, seja porque utilizam poupanças ou porque herdaram. E, sobretudo, porque muitas compras vêm da aplicação de fundos ou de pessoas abastadas. Quer dizer, especulação urbana. Há mais indícios que comprovam a segunda: a maioria dessas compras são os chamados “investimentos no atacado” de empresas ou cidadãos estrangeiros com grande poder de compra que compram essas casas não para viver, mas para investir.
Além disso, a maioria destas operações isentas de hipotecas concentram-se em zonas turísticas e tendem a ser segundas residências. Um exemplo claro é encontrado nas Ilhas Baleares e nas Ilhas Canárias, onde A percentagem de casas vendidas sem hipoteca é de 60,7% e 60,2%, respectivamente. Em Múrcia esta percentagem sobe para 57,6% e nas Astúrias, 57%. Brick na Espanha voltou a ser o mais rentável quando se trata de investir.
Hipotecas caras. A isto devemos acrescentar uma tendência que tem ocorrido em paralelo: a aumento da taxa de juro aplicado pelo Banco Central Europeu (BCE) para conter a inflação e que levou a um aumento do custo do financiamento. Se as taxas subirem, as hipotecas tornam-se mais caras porque os bancos apertam as condições e, consequentemente, são assinados menos empréstimos hipotecários (-25,7% em julho de 2023 face ao mesmo mês de 2022).
Sem possibilidade de acesso a financiamento, a maioria dos compradores tem de optar por pagar o preço do imóvel sem recorrer a um empréstimo bancário. Ou não.
Já é mais caro que aluguel. As famílias enfrentam cada vez mais pagamentos de hipotecas mais elevados. O fenómeno acentuou-se de tal forma que em nove cidades de Espanha estas já ultrapassam as rendas, segundo um estudo realizado pela UVE Ratings. Em San Sebastián, por exemplo, o pagamento mensal da hipoteca de um apartamento de 80 metros quadrados Já chega aos 1.870 euros (23€ por m2), enquanto arrendar um imóvel da mesma dimensão custa 1.344€, ou seja, menos 526€. Outro exemplo encontra-se em Marbella, onde a taxa já ascende a 19€ por m2 (1.555€ por uma casa), enquanto o aluguer custa 16€ (1.296€).
45% do salário. Preços exorbitantes que já consomem parte importante dos salários das famílias. De acordo com o último estudo da OBS Business School No que diz respeito ao mercado imobiliário, 45% do rendimento familiar em Espanha já é destinado ao pagamento da hipoteca, mais do que a média da UE e 15% mais do que alocámos em 2021. Entretanto, as rendas também continuam a subir: no ano passado atingiram um novo recorde histórico, com 12,1 euros por metro quadrado. Existem poucos pontos de venda neste momento para o cidadão médio sem poupança.
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Em Xataka | O preço da habitação em Espanha é impossível. Existe uma alternativa: os leilões da Agência Tributária