A poderosa visão infravermelha do Telescópio Espacial James Webb abriu uma janela para o passado que muitas vezes questionou o que sabemos sobre a evolução do cosmos. Como pode uma galáxia nascer e extinguir-se quando o universo está em plena fermentação?
A galáxia que morreu antes do esperado. A última descoberta do telescópio Webb leva-nos à galáxia JADES-GS-z7-01-QU, na constelação de Fornax.
Foi descoberta em 2010, mas graças às observações mais recentes com o telescópio espacial, sabemos que é uma galáxia morta e que morreu quando o universo tinha apenas 700 milhões de anos.
Vamos colocar a figura em perspectiva. Por “morreu”, os astrónomos querem dizer que parou de formar estrelas. E com “apenas 700 milhões de anos”, o universo estava em pleno frenesi de construção.
Se o Bing Bang ocorreu há 13,8 mil milhões de anos, JADES-GS-z7-01-QU pendurou as luvas há 13.100 anos, quando as galáxias formavam estrelas num estilo de bolha imobiliária devido à abundância de poeira e gás.
O que a fez sair da festa tão cedo. JADES-GS-z7-01-QU não só se tornou a mais antiga galáxia morta conhecida, mas também um enigma. Nosso entendimento era que as galáxias começaram a parar de formar estrelas muito mais tarde na história do universo.
Num estudo publicado esta semana na Nature, uma grande equipa de astrofísicos questiona-se porque é que JADES-GS-z7-01-QU cessou a sua produção estelar tão prematuramente. Eles concluem que os estágios iniciais do universo eram ainda mais selvagens e rápidos do que se acreditava anteriormente.
Duas hipóteses. Os cientistas pensam que JADES-GS-z7-01-QU passou por uma intensa fase de formação estelar que durou entre 30 e 90 milhões de anos, após a qual desapareceu repentinamente. Quanto aos motivos desta morte abrupta, ele tem duas hipóteses.
A primeira é que o buraco negro supermassivo no centro da galáxia expeliu o gás necessário para a formação de novas estrelas fora da própria galáxia. A segunda é que simplesmente ficou sem combustível. A poeira e o gás eram abundantes, mas a produção foi tão acelerada que talvez tenha acabado. A bolha imobiliária estourou.
E se as galáxias tiverem várias vidas? Esta descoberta não só põe em causa o que sabíamos sobre a formação e evolução das galáxias no Universo primitivo, mas também levanta novas questões.
É possível que galáxias “mortas” fossem comuns naqueles anos de juventude cósmica, mas depois de alguma forma voltassem à vida? As teorias atuais sugerem que não, mas à medida que lançamos telescópios mais poderosos, a nossa visão do passado pode mudar.
Imagem | NASA, ESA, CSA
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